29.12.10

Salada de abobrinha temperada com mostarda e alcaparras


Esta é uma salada que faço sempre que tenho abobrinhas bem frescas em casa. Geralmente uso a abobrinha italiana, mas a brasileira também serve. Uso o fatiador para que as fatias fiquem bem fininhas e tempero com um molho feito com alcaparras picadinhas, mostarda tipo dijon, azeite, sal e pimenta a gosto. Misturo tudo muito bem e finalizo com um pouco de parmesão ralado.

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Minha cidade

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A cidade onde moro é pequena e tem ruas arborizadas. As construções não tem mais de três andares e tudo de que preciso está a poucos quarteirões da minha casa: a mercearia do casal simpático, a padaria, a quitanda onde as frutas estão sempre frescas. Há uma loja de ferragens perto da igreja e uma praça onde velhos de chapéu jogam dominó.

Há sempre crianças brincando nos quintais e os vizinhos fazem silêncio durante à noite, ouve-se no máximo a sugestão de Bossa Nova ou de Ella Fitzgerald vinda de alguma janela aberta, o que alegra alguns de meus finais de tarde.

E sente-se o aroma de bife, ou pipoca, ou café, preparado nas cozinhas.

Sei que nem todos são felizes aqui, há sempre algum drama doméstico comentado entre as vizinhas, ou um adolescente solitário trancado em seu quarto, mas não há nada errado nisso, pois o que descrevo não é um ideal, é uma nostalgia.


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23.12.10

Torta de cenoura com parma e tomilho


Receita do Lucullian Delights. Não resisti, achei a ideia da torta muito interessante. Qualquer massa serviria para a base, mas estava particularmente curiosa em experimentar essa massa feita com batatas cozidas.

Fiz metade da receita e a minha torta ficou bem diferente da original. A massa antes de assar lembra aquela de um gnocchi. Ela ficou gostosa, mais leve do que uma massa feita só com farinha.

Substitui a pancetta por presunto de parma. A combinação de sabores é muito boa, mas se preferir usar só cenouras, também ficaria boa.




Torta de cenoura com parma e tomilho

massa:
5 batatas médias
100-150g de manteiga ou azeite (usei este último)
Cerca de 2 x ou 2 1/2 x de farinha
1,5 c chá fermento em pó
sal a gosto

cobertura:
1,5kg de cenouras
100g de pancetta ou bacon picado (ou presunto de parma como eu)
algumas folhas de tomilho
sal
azeite extra-virgem

Descaque e corte as cenouras em fatias bem finas. Refogue-as com um pouco de azeite junto com o tomilho até que fiquem macias. Adicione a pancetta e continue cozinhando até que as cenouras  dourem  ligeiramente e a pancetta fique crocante. Verifique o sal e adicione mais caso necessário, lembre-se de que a pancetta  é salgada.

Cozinhe as batatas até que fiquem macias, descasque (caso as tenha cozinhado inteiras) e passe pelo amassador de batatas (ou use um garfo, o que for mais fácil). Faça isso enquanto elas ainda estiverem quentes. Deixe esfriar um pouco antes de adicionar a manteiga (ou azeite), a farinha e o fermento. Corrija o sal. Adicione mais farinha caso as batatas sejam de uma variedade mais úmida. A massa deve ser elástica e não muito dura. Forre um refratário com essa massa reservando um pouco para decorar a parte de cima com faixas, caso deseje.

Espalhe as cenouras sobre a massa e asse à 175C por cerca de 30 min. (Minha torta levou mais tempo, retirei do forno depois que a massa começou a dourar).


22.12.10

Peras assadas com mel e alecrim



Peras assadas desta forma dão um bom acompanhamento para carnes como carneiro, porco e pato, também podem entrar em saladas de folhas com queijos azuis (gorgonzola ou roquefort). Eu usei 5 peras pequenas,  maduras, mas ainda firmes, lavei, cortei ao meio e retirei as sementes. (Corte em quatro se as peras forem grandes e junte um pouco de suco de limão para evitar que elas escureçam, eu me esqueci).  Coloquei em uma panela junto com folhas de um ramo de alecrim, 1 colher de sopa de azeite e 1 coher de sopa de mel. Levei ao fogo e aqueci apenas o suficiente para que o mel ficasse mais líquido e envolvesse bem as frutas junto com o azeite. Coloquei em um refratário e levei ao forno. Assei em fogo baixo até que as peras ficassem macias, cerca de 20-30 min. Se preferir pular a etapa da panela, aqueça o mel por alguns segundos no micro-ondas e misture as frutas com as mãos junto com os demais ingredientes.

(E sim, eu adoro usar mel na cozinha...)


21.12.10

Aquiles e a tartaruga


Não sei muito bem o que dizer deste filme do Takeshi Kitano. Para ser honesta, minhas opiniões sobre o diretor são conflitantes. Assisti a vários filmes dele e gostei de muito poucos.

Li que este é o último filme de uma trilogia sobre a arte e o artista. Os dois primeiros parecem ter sido mais autobiográficos. Aqui, a história começa com um garoto, Machisu, que nasce em berço de ouro e acaba em um orfanato quando o banco do pai vai à falência e este se suicida com a sua amante. O garoto gosta muito de pintar e passa o tempo todo desenhando em seu caderno.

Já adulto, Machisu trabalha em empregos sem futuro durante o dia e pinta no tempo que lhe resta. Tornar-se famoso por meio da pintura é sua ideia fixa, tanto que ele parece se distanciar da realidade e do contato com as pessoas para atingir sua meta. Assim mesmo, ele conhece uma mulher que o compreende e o apoia totalmente. Eles se casam e ele chega à maturidade sem obter sucesso. Entretanto, ele não desiste, sua esposa trabalha para sustentar a família. A filha tem vergonha dos pais e ganha dinheiro como prostituta.

Os quadros de Machisu são sempre rejeitados, ele não encontra um estilo próprio e está sempre fazendo experiências, chegando a extremos para dar "alma" e originalidade às suas obras. As atitudes do personagem e  as situações que ele cria e nas quais se envolve vão ficando cada vez mais patéticas e constrangedoras. 

O filme é deprê, apesar de ser chamado de "comédia". Há sempre pessoas morrendo ao redor de Machisu, mas sua cabeça está tão focada na pintura que ele parece não se importar com mais nada. Nem todo mundo tem talento, originalidade e sorte suficientes para deslanchar. Machisu é um caso que ilustra isso. Se ele se desse por satisfeito apenas em pintar sem perseguir o sucesso, sua vida seria bem mais simples.

O título do filme é inspirado no paradoxo de Zeno sobre Aquiles e a tartaruga, segundo Zeno, se Aquiles, o herói grego, apostasse uma corrida com uma tartaruga que estivesse alguns metros à sua frente, sempre que ele chegasse ao ponto em que a tartaruga estava no começo, ela estaria em um ponto mais  adiante, seguindo esse raciocínio, Aquiles nunca alcançaria a tartaruga. No filme, Machisu seria Aquiles e o sucesso seria a tartaruga. (Ao menos foi o que li em algum lugar, mas o final me fez questionar essa interpretação).


18.12.10

Kabocha cozida com açúcar e shoyu


Mais uma receita com kabocha. Andei numa "fase aboborenta".

Kabocha cozida bem simples, dá para fazer de várias maneiras, desta vez, preparei da seguinte forma: limpei e cortei um pedaço de kabocha em cubos médios, coloquei em uma panela de fundo grosso, polvilhei com açúcar (a gosto, os japoneses fazem mais adocicada), misturei com as mãos, como se estivesse fazendo um "peeling" nos pedaços de abóbora (vi na tv, parece que dá mais sabor), adicionei algumas colheradas de shoyu e outras de saquê (também a gosto e dependendo da quantidade de abóbora), tampei a panela e cozinhei em fogo baixo até que a abóbora ficasse macia sem se desfazer. Dei algumas chacoalhadas na panela de vez em quando para misturar. Não adicionei mais líquido para o cozimento, mas se houver necessidade, adicione algumas colheradas de água. A própria abóbora solta um pouco de líquido enquanto cozinha.

15.12.10

Cookies de aveia, tâmaras e nozes


Receita adaptada do blog da Clotilde. São cookies saborosos e cheios de coisas que adoro: tâmaras, nozes, aveia, sementes de linhaça. Eles são mais crocantes logo após retirados do forno, mas continuam firmes mesmo após alguns dias. 


Cookies de aveia, tâmaras e nozes

(cerca de 15 cookies)

2 c sopa de sementes de linhaça
140g de farinha integral 
80g (3/4x) de aveia ou quinoa em flocos
1/2 c chá de fermento em pó
1 c chá de grânulos de café instantâneo (nescafé)
50g de açúcar demerara
30g açúcar mascavo
90g nozes picadas
60g tâmaras picadas
60ml de óleo
80ml leite

Coloque as sementes de linhaça em uma pequena tigela e adicione cerca de 2 c sopa de água. Deixe descansar por 30 min até que a mistura "gelifique".
Preaqueça o forno à 180°C, forre uma forma com papel manteiga, alumínio ou unte-a muito bem.
Misture a farinha, a aveia, o fermento, o café, o açúcar demerara e mascavo, as nozes e as tâmaras. Adicione as sementes de linhaça, o óleo e o leite e mexa até que massa fique homogênea. Ela deve ser úmida o suficiente para que você possa moldar os cookies, mas não mole demais. Adicione mais leite ou farinha para ajustar a consistência caso seja necessário.
Retire pequenas porções da massa, molde bolas e achate-as um pouco. Coloque os cookies sobre a assadeira deixando algum espaço para que cresçam. (Minha massa ficou mais mole, mas eu preferi não adicionar mais farinha. Apenas fui derrubando porções sobre a forma com uma colher).
Asse por cerca de 20 minutos, até que dourem. Deixe esfriar antes de retirar da assadeira.


Throwing away the alarm clock

Conhecia vagamente Charles Bukowski como um escritor americano "porra-louca" e também vi alguns trechos de um filme baseado na vida dele há muito tempo. Este é o primeiro poema  "bukowiskiano" que leio, gostei muito.



Throwing away the alarm clock

my father always said, "early to bed and
early to rise makes a man healthy, wealthy
and wise."

it was lights out at 8 p.m. in our house
and we were up at dawn to the smell of
coffee, frying bacon and scrambled
eggs.

my father followed this general routine
for a lifetime and died young, broke,
and, I think, not too
wise.

taking note, I rejected his advice and it
became, for me, late to bed and late
to rise.

now, I'm not saying that I've conquered
the world but I've avoided
numberless early traffic jams, bypassed some
common pitfalls
and have met some strange, wonderful
people

one of whom
was
myself—someone my father
never
knew.

"Throwing Away the Alarm Clock" by Charles Bukowski, from The Flash of Lighting Behind the Mountain. © Harper Collins, 2004.

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12.12.10

Lombo recheado com nozes, maçã e linguiça acompanhado de molho de frutas vermelhas



 Receita da revista Taste of home. O recheio é ótimo (apesar de eu ter me esquecido do ovo) e o molho também fica muito bom. Acho que a géleia pode ser de outras frutas, pensei em laranja ou abacaxi. 




Lombo recheado com molho de frutas vermelhas


3/4 x de nozes 
340g de linguiça de porco (usei um pouco menos, procure uma linguiça sem muita gordura)
1 maçã média descascada e picada 
1 dente de alho picado
1 c sopa de salsinha picada
1 ovo batido (esqueci, mas não senti falta)
1 lombo de cerca de 1,5-2 kgs
sal e pimenta do reino
manteiga derretida para pincelar


molho:
1 x de geléia de alguma fruta vermelha (ou outra de sua preferência)
2 c sopa de mel
1 c sopa de passas
2 c chá de vinagre
1/4 c chá de molho de pimenta

Bata as nozes no processador até obter uma "farofa". Reserve.

Refogue a linguiça desfeita com as maçãs e o alho até que a carne cozinhe. Escorra o excesso de gordura e líquido. Deixe esfriar um pouco e junte as nozes moídas, a salsinha e o ovo. Acerte o tempero adicionando sal e pimenta. Lembre-se de que a linguiça já contém sal.

Faça um corte no meio do lombo, no sentido do comprimento até mais ou menos a sua metade. Pense nele como um livro aberto. Agora, faça um corte em cada uma das "abas" começando de dentro para fora para formar mais uma "aba". Você terá um retângulo aberto. Cubra a carne com filme plástico e bata com um martelo apropriado para diminuir a espessura da carne. (A minha não ficou assim tão fina, tinha cerca de 1,5cm). Se quiser/achar necessário, tempere o lombo com um pouquinho de sal, isso depende da quantidade de sal da linguiça que usar.

Pincele a superfície da carne com a manteiga derretida, espalhe o recheio sobre o lombo aberto e enrole como um rocambole começando pela parte mais comprida (ou como achar que ficará melhor). Amarre com um barbante. Coloque em um refratário, pincele com mais manteiga e asse por cerca de 1h30. Espere uns 15 min antes de fatiar e sirva com o molho.

Molho: Aqueça rapidamente os ingredientes em uma pequena panela até que a mistura fique uniforme.

10.12.10

Armadillo


Armadillo é um documentário de Janus Metz que acompanha um grupo de soldados dinamarqueses enviados para uma base chamada "Armadillo" no Afeganistão. Eles integram o Isaf, o exército da Otan. Ele começa ainda na Dinamarca com os rapazes se despedindo das famílias e participando de uma "festa" com bebidas e strippers antes de passarem seis meses em missão. Vários dentre eles ainda têm espinhas nos rostos e suas mães não conseguem esconder sua apreensão diante do que aguarda os filhos.

Em seguida, vemos os rapazes assistindo videos pornôs no computador ou jogando videogame para se distraírem na base. O lugar é praticamente um forte com muros, cercas de arame farpado e torres de vigia. As patrulhas que eles fazem são sempre tensas porque qualquer pessoa é um inimigo em potencial e eles são alvos fáceis de tiros e de minas terrestres, basta que se afastem cerca de um quilômetro da base para que entrem em território controlado pelo taliban.

Pelo documentário, vê-se claramente que a ideia de "conquistar mentes e corações" é risível. Os morteiros lançados pela base caem sobre casas, campos e matam civis. As patrulhas passam por cima das plantações dos camponeses causando estragos. Sempre há gente indo até a base para reclamar a perda de animais e outros pertences.

Um dos momentos mais dramáticos ocorre quase no final dos seis meses de serviço da tropa. Ocorre um tiroteio e os soldados matam três talibans em uma vala, na verdade, eles vão lá e descarregam os cartuchos nos três homens já mortos e depois há uma sugestão de que tiraram fotos ao lado dos cadáveres. Algo que causou muita comoção na Dinamarca. Isso não foi mostrado, mas pelas imagens de como um dos soldados revista os corpos para encontrar armas, você percebe que os rapazes passam a considerar algumas coisas com indiferença. O sentimento é o de caçar ou ser caçado e há euforia quando o resultado é favorável.

A justificativa de todos diante das câmeras é a de que apenas quem esteve lá pode dizer algo sobre o que aconteceu. As filmagens se focam em um grupo de uns cinco soldados que vão ao Afeganistão pela primeira vez. É possível ver como eles mudam com o tempo, endurecem. Há os "natural born killers", enquanto outros preferem se distanciar de tudo aquilo de vez em quando. Ao final, dos cinco, apenas um deixou o exército e tornou-se eletricista, os demais retornam (ou pretendem retornar) ao Afeganistão em 2011.

Guerra produz os efeitos de uma droga? Os soldados sentem falta da adrenalina?  Do companheirismo? Talvez. Ou talvez seja como ir à Lua. Voltar para a "Terra" e viver no meio de pessoas que nunca estiveram no "espaço" acaba fazendo com que eles se sintam estranhos. Mas essas são meras suposições.

9.12.10

Kabocha cake


Do programa da NHK. Resolvi dar uma "fuçada" no site e estou satisfeita com os resultados até o momento. Este não é exatamente um bolo, a consistência é mais parecida com a de um pudim, fica com um sabor de abóbora kabocha (abóbora japonesa) bastante agradável, é leve, doce na medida certa (para mim). Sem falar que fica pronto em um segundo...

Alguém escreveu que você pode adicionar uma pitada de canela para um perfume extra, eu esqueci, mas gostei assim mesmo. A superfície do "bolo" incha, mas isso não significa que ele cresça, é só a "casquinha" mesmo.



Kabocha cake

300g de abóbora kabocha
100g de açúcar
3 ovos
200ml de creme de leite
4 c sopa de farinha
50 g de manteiga derretida

Descasque e corte a abóbora em cubos, leve ao micro-ondas até que fique macia (cerca de 4-5 min dependendo do tamanho dos pedaços que cortar).
 
Coloque a abóbora no liquidificador junto com todos os outros ingredientes. Bata bem e derrame sobre uma forma forrada com papel manteiga ou muito bem untada para que não grude no fundo. 

Asse à 170C por cerca de 45min.

7.12.10

Herta Müller - Herztier


Herta Müller ganhou o Nobel de Literatura de 2009, antes disso, nunca tinha ouvido falar nessa autora romena que escreve em alemão. Fiquei curiosa em ler algo dela, lembrava que seus temas eram relacionados à época em que a Romênia estava sob a ditadura de Ceaucescu, mas era tudo. Leio poucos livros escritos por mulheres, o panteão literário ainda é bastante masculino. E, para falar a verdade, eu cresci com um certo preconceito em relação à "escrita feminina". São raras as escritoras que se salvam em minha lista. Acho que isso é algo que devo repensar.

O livro contém alguns elementos autobiográficos e é narrado por uma estudante universitária na casa dos vinte anos que compartilha um dormitório com outras garotas. Uma de suas colegas, Lola, é encontrada morta um dia em circunstâncias estranhas. A narradora conhece três garotos, aparentemente conhecidos de Lola, que procuram entender o que aconteceu. A narradora e esses três rapazes - Kurt, Edgar e Georg - compartilham o mesmo sentimento de impotência e revolta em relação ao regime e tornam-se amigos. Os quatro lêem livros proibidos, escrevem textos críticos e, por isso, acabam sendo investigados pela polícia. Eles são interrogados e ameaçados constantemente.

Depois de terminarem a faculdade, cada um deles é empregado em lugares diferentes, mas  permanecem em contato e continuam sendo vigiados. Os amigos apoiam-se um nos outros para suportar o estado de tensão em que vivem. Eles escrevem cartas nas quais determinadas palavras têm significados que apenas eles podem compreender e servem para alertar uns aos outros sobre quando estão em perigo.

Além da tensão constante dos personagens principais, há a preocupação de suas mães,  elas escrevem cartas comentando as visitas de "agentes" do governo e, por meio delas, temos uma visão do cotidiano das pessoas comuns nos vilarejos. É um mundo onde os sonhos são reprimidos e cada um precisa se concentrar nas necessidades do dia a dia. Em suma, uma vida insuportável para os quatro jovens.

É um livro de imagens estranhas e belas, composto de textos curtos e metafóricos. Como é o primeiro livro da autora que leio, não sei se essas são características de seu estilo. Gostei, é diferente de tudo o que já li e não sei muito bem como classificar.

O título foi traduzido para o português (de Portugal) e para o inglês como "A terra das ameixas verdes". "Herztier" é uma expressão difícil de traduzir. A autora a usa para descrever algo frágil e inquieto dentro dos personagens. ("Herz" = coração, "Tier" = animal).


Traduzi um trecho:

"Eu conhecia a anã do Praça Trajano. Ela tinha mais pele do que cabelos sobre a cabeça, era surda-muda e carregava um tapete de fibras como as cadeiras descartadas sob as amoreiras dos moradores antigos.  Ela comia o resto das bancas de legumes e engravidava todos os anos dos homens de Lola. Eles vinham à meia-noite depois do último turno das fábricas. A praça estava escura. A anã não conseguia fugir a tempo porque não ouvia quando alguém se aproximava. E não podia gritar.

Na estação, perambulava o Filósofo. Ele tomava os postes telefônicos e as árvores por homens. Discorria sobre  Kant e o universo dos carneiros que comiam a grama para o aço e a madeira. Ia de mesa em mesa nos bares, bebia os restos e enxugava os copos com sua barba longa e branca.

Na frente da praça do mercado, sentava-se o velho com o chapéu feito de alfinetes e jornal. Ele arrastava um trenó com sacos ao longo das ruas no inverno e no verão. Em um deles, havia jornais dobrados. O velho fazia um chapéu novo todos os dias. No outro, estavam os chapéus usados. 

Apenas os loucos não teriam mais levantado  a mão no auditório. Eles trocaram o medo pela loucura.

No entanto, eu podia contar pessoas na rua, contar a mim mesma, como se fosse encontrar-me casualmente. Podia dizer a mim mesma: "Hei, você, Ninguém!". Ou: "Hei, você, Legião!". Mas eu não conseguia enlouquecer. Ainda estava lúcida."

28.11.10

Tofu com carne moída


Receita adaptada de um programa de culinária da NHK. É uma receita clássica de carne com tofu no estilo chinês, mas a minha versão acabou não sendo nada fiel à original, pois há dois temperos que nunca consegui encontrar por aqui, o "tobanjan" e o "tenmenjan". Se não me engano, o primeiro é o que devia dar o apimentado e a cor avermelhada típica do prato, ele é feito à base de favas fermentadas e pimenta, o tenmenjan é mais adocicado e feito à base de trigo. Eles são preparados usando o mesmo processo do missô. Só sei o que li rapidamente por aí, pois não tenho a menor ideia do sabor de cada um. Para compensar a ausência do "tobanjan", adicionei um pouco de pimenta calabresa.

Uma vez até entrei em algumas lojas da Liberdade em busca do "tobanjan", talvez não tenha procurado direito na época ou não tenha cruzado com a pessoa certa para me indicar onde poderia encontrar o dito-cujo, mas voltei de mãos vazias. Se alguém souber onde posso encontrar pelo menos o "tobanjan",  por favor me diga, pois um dia pretendo comprá-lo.



Tofu com carne moída

1 tofu firme (acabei comprando o mais macio por engano, ele se desfez um pouco, mas nada comprometedor)
100 g de carne de porco moída (usei carne bovina)
1 c sopa de óleo

A
1/3 de uma cebolinha grossa fatiada
1 dente de alho picado
1 pedaço de gengibre picado (mais ou menos do tamanho de dente e alho)
1/2-1 c sopa de tobanjan
1 colher de sopa de tenmenjan

B
3/4 x de caldo de galinha (ou água)
1 1/2 c sopa de shoyu
2 c sopa de saquê
1/2 c chá de açúcar

C
1 c sopa de amido de milho
2 c sopa de água

Escorra a água do tofu, embrulhe com papel toalha e deixe assim por cerca de 20 minutos para diminuir ainda mais a quantidade líquido. Corte em cubos de 1,5 cm.

Em uma wok (ou uma panela funda), aqueça o óleo e refogue a carne moída. Quando a cor da carne mudar, adicione os temperos do item A. Misture e adicione os ingredientes do item B.

Quando levantar fervura, adicione o tofu, cozinhe por 1 min movimentando a panela para misturar tudo, se usar uma colher ou espátula, há mais chances do tofu se desfazer. Adicione o amido dissolvido na água devagar, em fio. Movimente um pouco a panela para misturar o amido ao molho e para que ele engrosse. Desligue e sirva com arroz.

22.11.10

Dentro do ônibus VII

Eles sempre sobem no ônibus quando eu me levanto para descer. O filho entra primeiro e a mãe vem em seguida, já procurando um banco vazio para o garoto que tem problemas motores.  Estão indo ou voltando da escola, vejo pelo uniforme e pela mochila que a mãe carrega.

Às vezes, nós nos desencontramos e aí fico pensando se tudo está bem, se o menino foi para a escola e se o dia transcorreu sem incidentes. É um alívio revê-los. A mãe está sempre preocupada em não perder o filho de vista apesar do espaço limitado, o filho parece ignorar o que há ao redor, como todos os adolescentes.

Gostaria de sorrir para a mãe um dia desses, mas não sei se ela entenderia que meu sorriso é um aplauso silencioso.

21.11.10

Bolo quatro quartos



Receita de bolo clássica, a ideia é usar a mesma medida para quatro ingredientes principais: ovos, farinha, açúcar e manteiga. A receita que usei pede que se acrescente farinha com fermento, mas usei a farinha normal e adicionei a colher de chá de fermento em pó pedida. Já preparei uma receita semelhante do Cuisine sans souci na qual não se usa fermento, o bolo não cresce tanto, mas não achei que fazia tanta falta, já que ele é bem denso mesmo.

Usando esta receita como base é possível variar muito, ela é usada como base para um bolo de café e nozes que leva um glacê à base de manteiga no Kitchen Diaries do Nigel Slater. Ele só acrescentou 2 c. chá de grânulos de café instantâneo dissolvidos em 1 c sopa de água quente e pedaços de nozes à massa.

Outras versões interessantes seriam: adicionar cacau em pó ou raspas de limão ou laranja para dar um perfume diferente ao invés da baunilha. Ou dividir a massa para fazer um bolo mármore juntando machá ou cacau em pó a uma das partes.

É um bolo muito bom, acho meio pesado por causa da quantidade de manteiga, mas de vez em quando não faz mal, não é mesmo? Ótimo para acompanhar uma xícara de chá.


Bolo quatro quartos

3 ovos
175g de manteiga à temperatura ambiente
175g de farinha de trigo com fermento (usei a normal)
175g de açúcar
1 c chá de fermento em pó
1 c chá de essência de baunilha (ou raspas da casca de 1 limão)

Bata a manteiga com o açúcar até obter um creme esbranquiçado, bata os ovos juntos e adicione essa "omelete" pouco a pouco enquanto bate. Adicione a farinha misturada com o fermento e a essência de baunilha. Misture tudo com uma espátula com cuidado e coloque em uma forma untada e, preferencialmente, como fundo forrado com um pedaço de papel manteiga para que não grude. 

Asse em forno preaquecido à 180C por 45-50 min ou até que fique dourado. (Faça o teste do palito).

19.11.10

Shangai - Riichi Yokomitsu



Faz algum tempo que terminei o livro já comentado aqui. A história se passa em Shangai nos anos vinte/trinta e a cidade pode ser considerada a protagonista da história. Esta concentra-se em alguns expatriados japoneses que caminham pelas suas ruas ao lado dos riquixás, mendigos, crianças sujas, carcaças de animais expostas em bancadas pelos açougueiros e do Yangtzé, onde barcos descarregam mercadorias.

Há muitos estrangeiros na cidade, russos que fugiram da Revolução Comunista e  vivem como mendigos ou prostitutas, soldados indianos à serviço da Inglaterra, europeus que trabalham para as grandes companhias de seus respectivos países e os próprios japoneses como Sanki e Kouya, os personagens principais. Ambos estão sempre buscando algo indefinido em uma cidade cheia de contradições. Sanki espera a morte do marido da irmã de Koya, sua paixão de juventude e, quando isso finalmente ocorre, ele já não sabe mais  o que deve fazer. Para complicar, ele apaixona-se por uma chinesa, membro do movimento comunista, o que torna o romance impossível. Sanki também é amado por Osugi, uma jovem japonesa que trabalha para um banho turco e termina como prostituta após ser despedida.

Kouya, amigo de Sanki, é funcionário de uma madeireira, mas o que deseja mesmo é juntar dinheiro suficiente para especular na bolsa de valores e casar-se com uma japonesa que trabalha como dançarina/scort girl em um salão da cidade, só que ela sempre rejeita seus avanços.

A sensação é de que estão todos na expectativa de algo que mude suas vidas. E quando algo realmente grande ocorre - o partido comunista inicia uma série de rebeliões e greves de protesto contra a exploração das potências estrangeiras - tudo continua da mesma forma. A falta de comida, a miséria, as agressões, as mortes na rua e as greves aparecem mais como panos de fundo de suas tragédias pessoais.

O entulho flutuando nas águas do rio, um menino lambendo restos amassados de amendoim sobre a rua, as prostitutas procurando possíveis fregueses, estas são imagens que sempre retornam  à minha mente quando penso no romance.

Shangai é o único livro de Riichi Yokomitsu traduzido para o inglês que vi na Amazon, gostaria de ler a tradução algum dia para ver se entendi o grosso da história direito, pois achei o texto difícil, há muitas referências históricas e discussões políticas que não consegui acompanhar muito bem, mas é um livro bastante interessante pela descrição da cidade e de uma época.

16.11.10

Filé mignon ao molho de vinho e champignon


Da Dani da Casa de Farinha. Feita e repetida várias vezes. Não costumo usar temperos industrializados na cozinha, mas abro uma exceção para esta receita. A sopa de cebola dá um sabor muito bom ao molho e  o deixa mais encorpado. Vale a pena. Desta vez acabei não fritando a carne até que ela ficasse bem dourada, então o resultado ficou um pouco "pálido".



Filé mignon ao molho de vinho e champignon


1 peça de filé mignon de cerca de 1 kg
1 pacote sopa/creme de cebola
3 colheres de mostarda
1 copo de 200 ml de vinho branco seco
1 copo de 200 ml de água
4 colheres de sopa de molho Inglês
1 vidro pequeno de champignon laminado (usei os champignos inteiros desta vez)
Óleo para fritar


Amarre o filé inteiro e limpo e envolva todo ele na sopa de cebola. (Reserve o que sobrar da sopa de cebola para corrigir o tempero no final).

Frite o filé em óleo bem quente até ficar bem dourado e escuro. Escorra bem, deixe esfriar e leve para a geladeira.

Escorra a gordura toda passando por um filtro e aproveite o resíduo queimadinho da sopa de cebola devolvendo para a panela.

Misture aquela sobra da sopa de cebola reservada com a água, o vinho, o molho inglês, a mostarda e o champignon laminado e leve ao fogo até ferver e encorpar.

Retire o filé da geladeira, corte em fatias finas e junte ao molho.

Deixe ferver até engrossar o molho e reduzir de volume.

Sirva quente com salada, arroz branco e batata palha.

Obs: tenha um pacote extra de sopa de cebola, pode vir a calhar caso não sobre muito após besuntar a carne e deseje corrigir o tempero.

11.11.10

Kedgeree de salmão


Receita absolutamente deliciosa e com "sustância", um arroz com gostinho de curry acompanhado de salmão e ovos cozidos. Li que o kedgeree tem origem indiana e foi muito popular na Inglaterra como prato servido no café da manhã no século XIX. Devia dar para começar o dia com bastante energia...




Kedgeree de salmão

227g de filé de salmão sem pele e sem espinhas
1 c chá (5ml) de  óleo
sal e pimenta a gosto

1 c sopa (15ml) de óleo
1 cebola pequena picada
2 c chá de gengibre descascado e picado
2 c chá de curry em pó
1/4 c chá de açafrão da terra (cúrcuma)
3 vagens de cardamomo amassadas (opcional)
1 folha de louro
2 x de arroz basmati
1-1/2 x (375ml) de caldo de frango (usei água)
1 x de ervilhas congeladas
2 c sopa de coentro picado (ou salsinha)
5 ovos cozidos cortados em quatro

Coloque o salmão em uma assadeira untada com óleo, pincele a sua superfície com o óleo restante, polvilhe  sal e pimenta e asse à 200C até que a carne cozinhe, cerca de 20 min. Desfaça o salmão em pedaços de cerca de 5cm e reserve.

Enquanto isso, aqueça o óleo em uma panela e refogue a cebola até que fique macia e doure, cerca de 8 min. Adicione o gengibre, o curry, o açafrão da terra, o cardamomo, a folha de louro e tempere com sal e pimenta a gosto. Cozinhe por cerca de 30 segundos. Adicione o arroz, misture e cozinhe por cerca de 1 min. Adicione o caldo de frango (ou água), espere ferver, reduza a temperatura, cubra e cozinhe em fogo baixo até que arroz fique macio e o líquido tenha sido absorvido, cerca de 20 min. Retire do fogo. Adicione as ervilhas e o coentro, misture e deixe descansar, com a panela tampada, por cerca de 2 min. Descarte a folha de louro.

Adicione o salmão e misture delicadamente. Transfira para um prato e distribua os ovos cozidos por cima.


7.11.10

Algo que não estava na lista


 Isto não estava na minha lista das "100 coisas para fazer antes de morrer", mas talvez esteja na de alguns marmanjos. Como fui parar lá? O. se inscreveu em um concurso,  desses em que  você se inscreve por se inscrever, esqueceu, e surpresa, ganhou! O prêmio era ir ver o GP de fórmula 1 com tratamento "vip", traslado de porta a porta e arquibancada coberta com bufê na parte debaixo. Foi um programa que eu não escolheria de livre e espontânea vontade, mas foi uma "experiência".

É preciso usar um protetor auricular devido ao barulho dos motores e, como ficamos na frente da reta dos boxes, perto da largada, víamos  apenas algo passando na pista e desaparecendo, a velocidade é muito alta, pela televisão você não tem tanta noção disso. Na verdade, víamos mais por meio das telas instaladas na arquibancada. A corrida foi bem sem graça, não houve nada emocionante, mas pelo menos o tempo colaborou.

Agora é esperar pela mega-sena! :)


nem dava para ver os carros com tanta gente na pista

5.11.10

Chá, café, sorvetes, etc. - Buenos Aires

Alfajor e doce de leite são duas guloseimas pelas quais a Argentina é conhecida, mas também são duas guloseimas que não me atraem muito. Não sou muito fã de coisas muito doces. Há lojas da Havanna em todos os lugares e você também encontra alfajores de várias marcas diferentes vendidas individualmente em qualquer mercearia. Infelizmente, não fiz provas destes. Experimentei um alfajor de maicena que vimos na vitrine de uma doceria (há várias vitrines tentadoras pelas ruas), ele era feito com duas bolachas enormes, tipo sequilhos, e um recheio de doce de leite. Como já deveria ter previsto, ele era muito seco. Para presentear, os Havanna são os melhores, pois vêm em caixinhas e custam a metade do que custam aqui. As marcas vendidas nos supermercados estão mais em conta, mas as embalagens são mais simples.

Uma das razões para ter feito a reserva para o chá no Alvear, foi para provar o chá da Tealosophy, uma loja sobre a qual tinha lido antes de viajar. Como escrevi, o chá foi uma das melhores coisas daquela tarde. A loja da Tealosophy fica em uma galeria bem ao lado do Alvear e demos uma passada por lá depois de sairmos do afternoon tea. É uma loja minúscula com apenas uma vendedora, esperamos os dois fregueses que chegaram antes de nós serem atendidos para podermos entrar, porque praticamente não havia espaço para mais gente lá dentro. Aquela foi a primeira vez em que escolhi os chás pelo seu aroma, a vendedora pergunta qual o estilo do chá que procuramos - floral, defumado, verde, preto, com frutas, etc. - e abre as tampas dos grandes latões distribuídos nas prateleiras para que sintamos o aroma dos chás. Aquilo foi uma revelação para mim. Minha vontade era pedir para ela abrir todas as latas para sentir as variações e nuances de aromas. Fiquei fascinada. Os chás, depois de preparados, mantêm aquele perfume todo de uma forma sutil. A Inés Berton, proprietária das lojas e criadoras dos blends, é uma artista. (E cobra pelos chás como tal. Compramos apenas alguns tipos para trazer, pois os preços são meio altos).

Li que uma loja Tealosophy seria aberta em SP, mas não sei quando isso irá acontecer. Depois dessa experiência, fiquei com vontade de conhecer a Loja do chá, a coisa mais próxima da Tealosophy por estas bandas.



Ainda no departamento de bebidas, como apreciadores de um bom café, fizemos pesquisas sobre onde poderíamos encontrar grãos diferenciados em Buenos Aires e chegamos no Establecimiento General de café. Há várias lojas na cidade e elas funcionam como cafés, obviamente, e também têm um espaço para venda de grãos/café moído pelo peso. Compramos um pouco de grãos de um café da Costa Rica para provar. Gostei da loja, deveríamos ter parado lá outras vezes para provar a bebida ou para fazer uma refeição. Vi que eles servem pratos que parecem muito apetitosos. Quase pulei em cima do que me pareceu ser uma torta salgada que o garçom levava para uma mesa.



Por fim, faltou falar dos helados portenhos. Há várias sorveterias espalhadas pela cidade, mas acabei provando apenas o sorvete do Un'altra volta no últmo dia de viagem. As lojas do Volta e do Freddo, outra rede, são grandes e, ao menos a primeira, também funciona como café. Vi algumas pessoas comendo tostadas quando entramos. Pedi um "vaso chico", que interpretei ser um "copo pequeno", mas depois fiquei me perguntando se um "copo para crianças" não seria uma tradução mais exata, porque eles eram pequeninos. Paguei $ 14, uns R$ 7, não era barato. Quando o atendente se postou diante de nós com aquela casquinha de waffle diminuta e perguntou quais os sabores que desejávamos, podiam ser dois, não acreditei que seria possível colocar muito sorvete sobre ela, mas foi. O problema era ter que comer o mais rápido possível para que o sorvete não fosse todo para nossas mãos e para o chão. Deveria ter perguntado se não havia copos de plástico. Era impossível tirar uma foto daquele jeito. Pedi banana e doce de leite e o O. foi de chocolate branco. Veredito, muito bom, fica entre o Parmalat e o Hagen Daz. Seriam necessários vários dias para experimentar todos os sabores e as outras sorveterias.


4.11.10

Puerto Madero - Buenos Aires


Puerto Madero é um pedaço moderno e "novo em folha" de Buenos Aires. O taxista que me levou até lá era muito simpático. Não sei se ele "sacou" que eu era brasileira, como sou oriental, talvez ele tenha ficado em dúvida, pois falava bem devagar enquanto eu resgatava meu espanhol das profundezas de um curso básico feito na adolescência. Ele foi me dizendo que Puerto Madero era um lugar seguro e um ótimo ponto para contemplar o pôr-do-sol, explicou que havia hotéis famosos ali e que os ônibus não entravam na área.  Ele me mostrou a Casa Rosada, que fica bem perto de Puerto Madero e apontou onde deveria atravessar a rua para chegar até a Ponte da Mulher (acima, na foto). Foi bacana mesmo. Pena não ter perguntado seu nome.



Não atravessei a ponte para ver o que havia do outro lado nem caminhei  muito ao longo do rio para ver onde ele iria dar. Havia muitos turistas. As antigas docas viraram escritórios, lojas e cafés onde você pode parar para fazer um lanche ou simplesmente descansar contemplanto o rio e os prédios reluzentes. Li que a fragata da foto está aberta à visitação, mas não entrei, havia um grupo escolar barulhento na frente dela.

Passei por lá para "sentir" o clima de Puerto Madero. Depois de fazer isso, atravessei algumas avenidas e fui ver a famosa Casa Rosada. Passei ao seu lado, mas não tive coragem de parar e tirar uma foto, todos andavam com passos apertados na calçada e seguravam as bolsas junto ao corpo e fiquei receosa de fazer aquilo. Entrei na catedral  na frente da Plaza de Mayo. Ela era enorme e com várias estátuas de santos, mas achei o lugar lúgubre e com cheiro de inseticida. Também havia uma placa com os dizeres "Cuide de seus pertences" na entrada. Nada tranquilizante. Sei lá, não me sentia muito à vontade naquela parte da cidade.

A pizza da esquina - Buenos Aires


Não consigo lembrar qual era o nome do lugar que servia pizzas e empanadas em uma esquina perto do hotel, no cruzamento da Junin com a Peña, mas ele ficava aberto praticamente o dia inteiro e sempre havia gente tomando cerveja e comendo algo nas mesas do lado de fora e lá dentro. Resolvemos jantar ali na terceira noite, tinha feito reserva em um restaurante, mas liguei para cancelar, estávamos com preguiça.

Era um misto de pizzaria e barzinho bem agradável. O. pediu uma pizza de mussarela e eu fui de empanadas, pedi duas, uma de carne picante e outra de "verdura", elas eram feitas com massa de pizza e assadas. Cada uma custava $ 4,50. A de carne picante era muito boa, tinha uma ponta de curry, e a de verdura devia ser feita com escarola. Como ainda sobrou um espaço no estômago, pedi mais duas, uma de carne normal e outra de queijo com presunto. Comi a de carne, mas a outra vinha com muito queijo e a massa acabou ficando mole por causa disso, acabei não comendo tudo. O. gostou da pizza, eu não provei. Pedi uma daquelas garrafas pequenas de vinho só para provar porque ela era mais barata do que o suco de laranja do O., esqueci  qual o nome do produtor, mas o vinho era sofrível. 

Foi uma boa refeição em uma rua tranquila da Recoleta. Vou sentir saudades das empanadas...

2.11.10

Jardim japonês - Buenos Aires


Depois de passar pelo Rosedal, fui procurar pelo Jardim Japonês. No mapa, ele parecia muito próximo, segui pela Av. Figueroa Alcorta, fui andando, andando, após algum tempo, achei que algo estava errado, parei em uma banca de jornais para perguntar e tive que voltar duas quadras, ele ficava um pouco escondido em uma rua paralela à avenida. Paguei $ 8 no portão e entrei.


Há um lago com carpas no meio do jardim. O lugar é bonito, bastante tranquilo. Não consegui tirar uma foto da ponte vermelha vazia porque os turistas adoram tirar fotos sobre ela. A um canto do jardim, há uma grande construção onde funciona uma casa de chá e onde sempre há exposições, mostras de filmes ou algum outro tipo de evento. Dá para ver a programação aqui.


Antes de sair, passei pela "lojinha de souvenirs" que ficava perto da entrada e tirei um omikuji. É um tipo de "leitura de sorte" comum nas lojas que vendem objetos de proteção nos templos japoneses. Você chacoalha um recipiente com várias varetas numeradas, retira uma delas por meio de um buraquinho e recebe um papel com as previsões correspondente ao número da vareta.

Fiquei com uma pulga atrás da orelha em relação ao sistema do omikuji do Jardim Japonês. Retirei minha vareta e os números estavam em japonês, como consigo lê-los, disse qual era o meu para a vendedora. Ela já estava com uma caixa com as previsões sobre a mesa e disse que eu poderia retirar qualquer papel que quisesse de um fileira inteira. Até onde me lembre, elas não estavam numeradas e a caixa era muito pequena para conter todas as 100 previsões que dizem ser possíveis no omikuji tradicional. Paguei $ 5 pela brincadeira.


Bem, tirar a sorte é tirar a sorte e, mesmo que a parte das varetas tenha sido mera formalidade, até que minha "sorte" foi bem "honesta". Tirei "uma pequena sorte". Não me lembro de ter tirado uma "grande sorte" algum dia, mas também nunca tirei uma "má sorte".



"Deverá esforçar-se mais". Ah, isso é tão verdadeiro!


As pessoas podem levar o papel com as previsões para casa se elas forem boas, ou podem deixar as más nos templos. Eu sempre deixei as minhas amarradas com as demais. Estava fazendo isso quando uma mulher se aproximou e perguntou: "Puedo coger uno?". Eu me voltei e perguntei se ela brasileira, pois era fácil reconhecer o sotaque. Ela fez uma cara de "Nossa, mais uma brasileira!" e eu expliquei que os papéis que estavam ali não podiam ser retirados e de como o omikuji funcionava. Não sei se ela se interessou, mas vi quando entrou na loja. Português era a língua mais comum ali dentro.
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Rosedal - Buenos Aires


Aqui começam os programas sem a participação do O., depois de algumas caminhadas a contragosto e várias taças de vinho, ele preferia um programa mais "relaxado", assim, eu fui visitar alguns lugares sozinha. Ele diz que eu pareço um "diabo da Tasmânia que escapou de uma jaula" quando viajo, mas eu diria que sou mais metódica do que isso. Gosto de marcar os pontos por onde pretendo passar em um mapa e marcho na direção deles, inexoravelmente. O. já prefere ver as coisas na medida em que  precisamos sair para comer  ou quando temos uma programação mais específica, sem o desespero de querer ver tudo de uma vez só. Temos afinidades em muitas áreas, mas estilo de viagem não é uma delas.

O Rosedal fica na região dos parques de Palermo, uma das áreas mais bonitas da cidade com avenidas largas e bem cuidadas.



Dei muita sorte, pois o Rosedal estava florido. Se morasse na região, terminaria minhas caminhadas sempre ali. Ou me sentaria em um banco e ficaria lendo perto das roseiras pela manhã  e finais de tarde. Havia um cartaz anunciando concertos feitos lá dentro, deve ser algo estupendo.



Este trecho com os caramanchões de rosas trepadeiras é uma graça.


O Rosedal propriamente dito ocupa um trecho de um parque com chafarizes e lago. Se estiver em Buenos Aires quando ele estiver florido, não deixe de ir.


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1.11.10

Paraje Arevalo - Buenos Aires


Acho que este foi o último restaurante em que fizemos uma refeição antes que eu desistisse da minha lista. E também o mais controverso. Ele fica em Palermo Hollywood, consideravelmente afastado de onde estava hospedada. Saimos lá pelas dez e fomos ver o Shopping Abasto, quer dizer, fomos procurar algo que O. queria (e que não foi encontrado). Há um traslado gratuito, basta ligar para o número que consta no site do shopping e dizer o nome do hotel em que você está para que uma van vá buscá-lo. Como havia um papel com os dizeres "La proprina es apreciada" em um canto do veículo, demos uma gorjeta para o motorista.

O shopping estava vazio, não andamos muito lá dentro, mas li que ele era um antigo mercado que virou shopping após ser comprado pelo George Soros. Saímos de táxi e nos dirigimos para o restaurante, tinha feito reserva para o meio-dia, mas, como já escrevi, na primeira meia hora após a abertura, os restaurantes estão às moscas, o que torna as reservas supérfluas.

Falei qual era o endereço e o taxista foi seguindo por uma rua que cruzava com aquela onde o restaurante se localizava. Bastava seguir reto que íamos dar no restaurante, mas descobrimos que havia uma mudança de mão pelo caminho. Quando isso ocorreu, perguntei para o taxista se o restaurante ficava muito distante e ele fez um gesto aberto a muitas interpretações e que eu julguei ser "fica lá do outro lado do quarteirão", preferi descer ali e continuar andando, mas o que o homem não disse era que o "outro lado" era o outro lado de uma via férrea, de uma avenida e mais cinco quarteirões.

Deveria ter tido a presença de espírito de abrir o mapa e ver exatamente onde estávamos. Como não fiz isso, caminhamos e caminhamos debaixo do sol. Para completar, depois li que as autoridades não recomendavam que as pessoas atravessassem aquele trecho da via férrea e da avenida nem de dia nem de noite porque havia muitos roubos no local. o.O

Mais uma vez, éramos os primeiros fregueses. O Paraje Arevalo fica em uma esquina e tem o ambiente de um bistrô francês. Móveis com ar antigo, duas bicicletas "retrô" encostadas nas paredes e grandes janelas. Um ambiente bastante acolhedor e simpático. Eles servem menus com vários "passos", o de três, escolhido por nós, custava $ 70, uns R$ 30, e incluía entrada, principal e sobremesa. Há um outro menu com seis passos (se não me engano) que custava $ 100, mas achamos que não aguentariamos. Bebemos água.



Como couvert, havia pães fininhos e tostados e manteiga com azeite e sal, os pães fininhos depois foram substituídos por algo que parecia uma massa de pizza. Ambos estavam bons, bem quentinhos.

A entrada poderia ser uma salada com mussarela de búfala temperada com pesto, o que escolhemos, ou algo feito com ovos. Como prato principal, havia bucatini com molho à bolonhesa e bife de quadril (não sei a que corte corresponde aqui) e purê de abóbora, este foi o escolhido por mim, O. ficou com a massa.


De sobremesa, havia morangos com  granita de hortelã e um tipo de bolo mousse de chocolate. O. ficou com o primeiro e eu com o segundo.


É aqui que começa a controvérsia. A quantidade de comida é boa, não passamos fome. A salada estava gostosa, a carne estava com boa cocção (poderia até ser menos passada para mim). O. disse que a massa estava cozida no ponto certo. Mas sabe aquela história do "elefante que pariu um rato"? (Ou será que foi a montanha?). Sei que os pratos ficaram abaixo de nossas expectativas. Eles eram apenas corretos, sem mais.

O. não gostou da sobremesa, eram morangos fatiados com um tipo de "raspadinha", se não me engano, à base de hortelã com umas florezinhas. Meu bolo estava bom, mas poderia ser mais macio, com uma textura mais próxima à de uma mousse e também um pouco mais doce.

Tinha lido as críticas no Guia Óleo e elas eram muito variadas, vão desde os que adoram o lugar, a grande maioria, àqueles que o detestaram. Eu fico em um meio termo, mas acho que não voltaria a comer ali. Uma pessoa escreveu, indignada, que pediu o menu de seis passos e recebeu um pedaço de abóbora com uma fatia de queijo como entrada. Eu entendo o que o chef deseja oferecer, mas isso não funciona com todos.

Escolhi o lugar para ver qual era a do restaurante e também para conhecer aquele pedaço de Buenos Aires. O que achei? Vi pouco, atravessamos um pedaço de Palermo Soho de táxi e andamos por um pedaço de Palermo Hollywood. A parte de Parlemo mais afastada dos parques. A principal diferença com o resto da cidade é que não há prédios, ou muito poucos. É como se caminhássemos por um bairro tranquilo e arborizado onde há apenas casas. Aqui e ali havia alguns bares e restaurantes. Não sei se me hospedaria naquela área, talvez seja mais interessante para ir comer ou beber algo no final da tarde.

(Nota sobre o restaurante: pagamento só em dinheiro, há vários lugares que não aceitam cartão de crédito, informe-se antes).


31.10.10

El Ateneo Grand Splendid - Buenos Aires


O El Ateneo é uma cadeia de livrarias de Buenos Aires, entre as lojas, encontra-se a mais famosa livraria da cidade, e uma das dez mais belas do mundo, o El Ateneo Grand Splendid. A livraria ocupa o prédio de um antigo teatro - posteriormente transformado em cinema - na Avenida Sta Fé. Por fora ela não é tão interessante, mas depois de passar pela entrada e subir alguns degraus, você se depara com os balcões ornamentados e a abóbada com suas pinturas e o efeito é realmente muito bonito. Há três andares: literatura e generalidades no piso térreo, livros de áreas mais específicas no segundo e dvds no terceiro (se não me engano). O antigo palco foi transformado em um café com várias mesas.


Passei um bom tempo vendo os títulos de romances argentinos e latinos, mas achei que havia pouca coisa e os preços dos livros novos não eram muito atraentes. Dá para encontrar preços melhores nos sebos que existem espalhados pela cidade.


Estava saindo quando passei pelos displays com os lançamentos perto da entrada e topei com o livro da Beatriz Sarlo chamado Tiempo Presente. Tinha lido algo sobre a autora no jornal na semana anterior à viagem e já estava com vontade de ler algo dela.
Beatriz Sarlo é crítica cultural e literária e professora universitária. Pensei que seria uma leitura apropriada para a ocasião. Aquela era a segunda edição de um livro publicado em 2001, período de crise brava no país. No livro, a autora escreve sobre como os argentinos empobreceram, sobre o aumento da percepção da violência e do sentimento de insegurança do povo.

Há muitas referências a personagens e fatos que talvez somente alguém que viveu algum tempo no país possa compreender, mas é um livro interessante. Foi por meio dele que descobri que o Shopping Abasto era o prédio de um antigo mercado comprado pelo George Soros, algo que ela comenta quando escreve que há shoppings sobredimensionados na cidade e que a ideia de proteger um patrimônio parece ser sinônimo de transformá-lo em templo de consumo, como ocorreu com o prédio do Abasto e das Galerias Pacífico. (E como o prédio desta livraria...)


Fui lendo trechos do livro no hotel e dentro do avião, muita coisa mudou de 2001 para cá, o país conseguiu atingir um certo nível de estabilidade, mas também dá para ver que alguns problemas persistem, como a pobreza e o sentimento de insegurança em relação às instituições sociais.

30.10.10

Olinda Bistró - Buenos Aires

O Olinda Bistró foi o restaurante da Recoleta escolhido para um jantar. Como ele ficava um pouco afastado do hotel, resolvemos pegar um táxi. É muito fácil pegar um táxi em Buenos Aires, eles são pintados de preto e amarelo e estão em todos os lugares. Basta ficar parado na calçada e acenar para o primeiro que aparecer com plaquinha "libre" acesa. E há taxistas de todos os tipos, simpáticos, caladões, impacientes, aqueles que já aderiram ao GPS, etc. O que pegamos para ir até o restaurante cobrou $ 15 apesar de estar escrito $ 11 no taxímetro. Ele disse algo sobre um "valor mínimo noturno", como éramos turistas ignorantes, pagamos. Na volta, pegamos outro táxi e o motorista cobrou o valor do taxímetro, menos de $ 15. Vai ver que o primeiro achou que deveríamos ter ido a pé...

Mas voltando ao restaurante, ele é pequeno e fica em uma rua tranquila. Os pães do couvert estavam ruins, pareciam amanhecidos. Como minha incomum falta de fome continuava, pedi uma entrada como principal. Uma espécie de massa folhada coberta com queijo de cabra e alcachofras. Não era nada demais, as alcachofras eram daquelas pequenas e estavam meio fibrosas. O O. pediu tortellinis recheados com presunto e queijo e um molho à base de manteiga e manjericão que, segundo ele, estavam ótimos. Bebemos um Felino Malbec e água. Havia uma opção de principal + bebida + sobremesa por $ 50, mas quando ouvimos a palavra "pechuga de pollo"/"peito de frango", passamos, se há algo que não aguento mais comer/preparar em casa é peito de frango.

Fomos os primeiros fregueses da noite, eram 20.30hs, outros casais chegaram depois e vi um deles comendo o tal peito de frango, ele era recheado e vinha sobre uma espécie de purê, acho que de batatas com alguma verdura.

De sobremesa, pedimos uma mousse gelada de manga e maracujá com creme de coco. Eu achei o nome melhor do que a sobremesa propriamente dita. A mousse vinha mesmo gelada, praticamente congelada. Estava bem doce e o azedinho característico do maracujá não existia. Para mim, a refeição foi normal, sem nada que sobresaísse. O. gostou mais do que eu. Os comentários sobre o restaurante no Guia óleo são muito bons, se tivesse escolhido um prato de verdade talvez tivesse algo mais a dizer. Acabei não tirando fotos porque o salão era iluminado pelas velinhas sobre a mesa e imaginei que elas não ficariam boas.